Tequila é uma jovem prostituta lésbica, que saiu da pequena Itapecerica, cidadezinha do interior de Minas aos 17 anos, rumo à Belo Horizonte, com o sonho de ser escritora. Alcoólatra, ex-presidiária e órfã de pai e mãe, ela carrega no peito um coração dilacerado pela violência, pela solidão e pela culpa. Ainda que jovem, aos 24 anos ela já experimentou o gosto amargo da sarjeta e sorriu pra morte diversas vezes. Ela atribui seus sofrimentos a um antigo amor: La Belle de Jour, uma cafetina de luxo da zona sul de BH. O romance contém muita poesia, sexo, incesto, drogas e violência. Enquanto persegue o sonho de publicar um livro, Tequila compartilha com o leitor o dia-a-dia de um prostituta com muita melancolia, crueza e escárnio. Tendo como clientes várias autoridades religiosas e políticas, ela relata todas as atrocidades que existem no coração de pessoas como a Senadora Sueli, e a Bispa Eleonora. Ela compartilha também, os segredos de uma mulher que ama, sorri e que acima de tudo, espera superar o passado e ser feliz.
A obra nos leva à vida e visão de mundo de Carol — ou Tequila, para os mais próximos — uma mulher jovem, escritora e que se encontra na total pobreza. Esse último fato faz a mesma se prostituir, porém, não sendo hétero, ela prefere prestar seus programas à mulheres de classe alta. Até aí tudo bem, mas o que faz o enredo ser tão bom? — A resposta é curta: foi escrito por Brendow H. Godoi. Sendo assim, as cenas presentes na obra traz toda a essência poética do autor. No livro, diversas vezes, na dificuldade, a personagem soltava versos de melancolia com pitadas de romantismo contemporâneo, do tipo:
Também vale mencionar que os momentos de sexo na obra fora escrito de uma maneira tão única que cheguei a questionar onde que o autor, Brendow H. Godoi, encontrou tanta inspiração para descrever tais cenas. Seria o Brendow um escritor 'transão'? Um amante de vídeos pornô? — Brincadeira, mas é verdade que todo o enredo passa pela imaginação do leitor como se fosse um filme antigo.Ela era um milagre. Um suicídio.
Um suicídio acachapante, com flores
e canções da década de 80.
Então, eu me sentia viva.
Uma espécie de perdedora conformada.
Uma mendiga gangrenada que sentia prazer
em lamber as próprias feridas.
Identificação
O bigode sujo de catarro enfeita a sua horrenda figura.
Um baita filho da puta, que despeja sobre mim as cantadas mais
infames que o diabo já ensinou a alguém.
“Bom dia, ruivinha. Que delícia, hein?”
“Vá se foder, seu merda.”
“Vem aqui que eu te mostro como se faz, cachorra.”
“Vai tomar no cu.”
Caos
Sendo o leitor um ser humano, tenho um grande achismo que qualquer um terá uma grande pena da história. Isso porque muitas vezes Tequila tem que se submeter a prostituição das piores formas. Em uma cena, a mesma até pensa em ter relação com homens, mas desiste. E o que o livro mostra nesse capítulo é algo realista da forma mais viva.
O único defeito que cada uma carrega é o olhar triste, apático. Cada par de olhos guarda gritos cerrados e um cemitério de segredos e planos frustrados. Ao contrário do que a sociedade pensa, as prostitutas não se submetem a essa vida por não valerem nada ou por simples prazer. Talvez alguma, é verdade. Mas a maioria não teve escolhas. Dá pra ver no rosto de cada uma.
Boêmia
Em grande parte do tempo a personagem quase não se importa com nada e muitas vezes se rende em um niilismo forte e o que resta é tomar bebidas, fazer sexo, fumar e escrever.
Faço um sanduíche, mato meia garrafa de vinho e meio maço de cigarros. Ponho-me a escrever algumas linhas mal traçadas.
Eram dois olhos fundos.Dois túmulos, onde eu me sepultei, e apodrecijunto com qualquer esboço de sanidade ou vergonha na cara..
— Brendow é um autor que sabe o que escreve, o que diz e o que rima. Se Quente, Feito Tequila tivesse sido escrito ou publicado em outro país, com certeza já seria Best-seller. Com tudo dito, esse romance pode ser considerado realista contemporâneo. Um livro para se ler da forma mais rápida, pois, vicia e nos faz rir, ter raiva/ ódio, ficar abismado e em pranto.
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