Quem nunca ouviu falar do Monteiro Lobato? Seja por suas obras ou por suas polêmicas, até mesmo. Pois bem, é sobre ele que venho falar aqui, ou melhor: sobre sua obra Emília no País da Gramática.
Mas antes de tudo, preciso dizer que a boneca Emília, assim como outras importantes personagens do Sítio do Pica Pau Amarelo, visitara o País da Gramática de 1934. Isso quer dizer que já temos um novo acordo ortográfico, certo? Pois bem, que continuemos.
A história começa com a Dona Benta desejando ensinar ao Pedrinho (que por sinal, este estava de férias) a gramática. De início, o menino recusara, uma vez que, segundo ele, gramática é chata. Todavia, dona Benta insiste, até que ele aceita. Depois elogia a senhora, posto que, aprender gramática com ela, é melhor que com aquele professor chato de língua portuguesa da sua escola. Ah!
E a boneca Emília, onde ela entra na história? Ela é a responsável pela ideia ainda melhor: levar os amigos do Sítio ao tal País da Gramática. Como chegam lá? — Guiados pelo Quindim, um rinoceronte, que aliás, também entende muita coisa de gramática.
E a aventura é das boas. O leitor junto com as personagens, entra no universo da linguística, onde aprende sobre os adjetivos, interjeições, preposições... Sabe o que é o mais interessante? Todos têm personalidades. Por exemplo, aqui o Verbo Ser é um senhor sábio, descrito como o "mais velho e graduado de todos os Verbos". Todas essas personagens da gramática vão nos mostrando suas funções e importâncias, assim aprendemos nos divertindo, realmente.
Se tu queres me perguntar qual fora meu capítulo favorito, irei responder: Emília Ataca o Reduto Etmológico. Isso porque a boneca bate de frente com a Ortografia Etimológica, sim, aquela que procura preservar o modo como as palavras eram escritas nas línguas antigas, como grego e latim, por exemplo. Assim, "sábado" se escreveria com dois b, "sabbado", porque vem do latim: sabbatum. E o que Emília faz aqui é uma "revolução" nesse país da gramática, atualizando essa ortografia antiga para a mais recente que é a grafia fonológica, a que traz a escrita das palavras mais simplificada, de acordo com o seu som: sábado tem o mesmo fonema de sabbado, nessa lógica não precisa de dois b, somente um.
Emília acenou para uma das palavras que andavam por ali. Era a palavra Sabbado, com dois BB.
— Senhor Sabbado, venha cá. Sabbado aproximou-se.
— Diga-me; por que é que traz no lombo dois BB quando poderia passar muito bem com um só?
Sabbado olhou para o lado da casinha da velha, com expressão de terror nos olhos. Emília viu que ele estava com medo de manifestar-se livremente, e levou-o para mais longe dali. Sabbado então disse:
— É por causa da bruxa velha. Como venho do latim Sabbatum, que, por sua vez, veio do hebraico Sabbat, ela não consente que eu me alivie deste B inútil. Há séculos que trago no lombo semelhante parasito, que nenhum serviço me presta.
— Quer dizer que para você seria muito melhor andar com um B só?
— Está claro! O meu sonho é ver-me livre deste trambolho. Mas a velha não deixa. . .
Emília arrancou-lhe o B inútil e disse:
— Pois fique com um B só. A velha está caducando e só olha para os interesses de si própria e dos Carrancas que lhe vêm filar o rape. Estou aqui representando os interesses das crianças, que constituem o futuro da humanidade — e as crianças preferem Sábados com um B só. Vá passear e nunca mais me ponha o segundo B!
Eu disse no início que se trata de uma história que traz elementos da antiga gramática, mas tranquilize-se, as editoras de hoje já trazem notas de rodapé, fazendo assim notas sobre as atualizações de acordo com o novo acordo ortográfico.
Por fim, gostei muito da obra. Com certeza utilizarei no futuro em sala de aula, já que se trata de uma obra paradidática.
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