Seu
Zuza é um senhor simpático, calmo e sábio, que soube usar dessas
virtudes. Tornou-se um dos maiores pescadores dessa cidade. Recentemente
o consultei; pedi para que me concedesse uma fala para um "documentário
universitário", o qual concluí e apresentei recentemente em sala de
aula. Ele disse com precisão que eu o podia filmar, que "a gente deve
falar o que sabe, né?", Sim! A gente deve falar o que sabe. Mas o que
sei, seu Zuza, é repetir o que os antigos autores sabiam, somente. Mas
tu, meu querido, realmente falas o que sabes, o que aprendeste com
esforço, vivendo ou sobrevivendo.
Disse-me outro dia que "as
coisas de hoje estão fáceis", que os meninos atualmente só não aprendem
se não quiserem; tem internet, tem livro para todo lado, daí me explicou
que — em seu tempo — seu pai achava ridícula a ideia de ir à escola;
por conta disso, não o deixou alfabetizar-se. "Meu irmão foi quem
aprendeu a assinar o nome, ele arrumou um livrinho de ABC e, no roçado,
escondido do meu pai, ele ficava estudando e até tentou me ensinar
também, mas não aprendi não".
Senti-me triste. Triste pela
história — aliás, há algo mais triste que ser obrigado a não estudar? Eu
por exemplo, já não consigo viver sem estudar gramática, retórica e
lógica. Alguém me obrigar a não estudar, é como me obrigar a não viver.
Contudo, penso que o pai de Seu Zuza talvez tivesse algum motivo para
proibi-lo de estudar — e espero que tenha sido um motivo coerente. Por
exemplo, deduzo que a família não tinha condições financeiras, por conta
disso, em vez de "perder tempo" com a escola, precisou trabalhar na
roça para conseguir renda a curto prazo.
E eu, ouvindo o relato,
refleti o quanto nossa atual geração é medíocre — não no sentido literal
da palavra — mas no sentido pejorativo mesmo: enquanto alguns pais
antigos brigavam para que o filho não estudasse, hoje os pais
"contemporâneos" brigam para o filho estudar.
Texto: Danilo Soares
DOMINGO MARQUÉS, FRANCISCO
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